Com SMCS
Grafite não é sinônimo de depredação, pelo contrário. Na CIC (Cidade Industrial de Curitiba), as obras colorem murais, paredes e lojas e ajudam a transformar o cinza da paisagem urbana em arte para a comunidade local.
A prática do grafite também é uma importante ferramenta de transformação social e econômica para jovens, que encontram nele um espaço para expressar sentimentos e ideias.
Para Maria de Lourdes Borcz, chefe do Núcleo da Fundação Cultural de Curitiba na CIC, as pessoas enxergam o colorido da vida no grafite. Por muitas vezes, lugares destruídos e sujos são transformados pela criatividade.
“Com o grafite não pode haver preconceito, é uma arte de todos. Quem passar aqui, seja ou não da região, vai poder apreciar. É um trabalho muito democrático do ponto de vista da apreciação”, disse.
Das ruas para o comércio
Na CIC, os desenhos estão em escolas, muros e praças. Comércios servem como suporte para o trabalho de artistas. Segundo André Kalil, comerciante da região que incorporou o grafite dentro de seu estabelecimento, uma sorveteria, o trabalho trouxe uma mudança radical para o local.
“O grafite incentiva as pessoas a entrarem aqui na sorveteria. A arte foi feita para deixar o ambiente mais leve, e as crianças também gostam muito. Ele mudou 100% o estabelecimento para melhor, deixou mais alegre”, afirmou o comerciante.
No bairro industrial da cidade, estão obras de artistas como Paulo Auma, cuja vida circula pela região. Em um mural no segundo andar da Administração Regional CIC, Auma traz vários aspectos do bairro, como as características industriais, da música, do trabalhador, do futebol e da arte. Por muito tempo, a CIC foi um polo cultural da cidade, e Auma retratou essa memória.
Outro artista de destaque para o bairro é Ferge, originário do Tatuquara, mas que possui diversos trabalhos dentro da comunidade da CIC.
Transformação social
Além da estética, a prática do grafite é um canal de expressão. Através dele, o artista encontra um espaço para se exteriorizar e reivindicar sua voz diante da sociedade.
“Jovens que vêm de um contexto carente podem mostrar o seu valor, mesmo que não sigam carreira. É importante que o indivíduo saiba que tem direito à expressão artística e que vai encantar o mundo com suas obras”, afirma Maria Lourdes.
Apesar disso, muitos grafiteiros ainda precisam convivem com os estigmas associados com a pichação. “O grafite é uma ferramenta de transformação social, valorização do ser humano, espaço para exercer a criatividade”, explica a chefe regional.
Da internação à realização
Nilmar Martins, mais conhecido como Nil, tem 36 anos, é nascido e criado na CIC, e trabalha com o grafite há sete anos. Na arte, ele encontrou propósito para seu trabalho e atualmente sustenta a família dessa forma.
Nil era dono de uma agência de publicidade e, segundo ele, o trabalho ocasionou duas internações devido a problemas de ansiedade. Nesse meio tempo, devido ao conhecimento como designer gráfico e ilustrador, começou a pintar paredes. Apesar da falta de prática, topou o desafio e passou a aplicar a ideia de comerciantes nas paredes de seus estabelecimentos.
Com a experiência, o artista passou a conciliar esse trabalho com sua empresa, mas acabou fechando a agência para se dedicar 100% ao grafite. Foi uma guinada em sua vida, tanto pessoalmente, quanto financeiramente.
Segundo Nil, hoje seu trabalho é feito com mais entusiasmo e a arte passou a ocupar um papel de realização em sua vida.
“Meu pai não apoiava o grafite. Antes de falecer, me viu vencendo com essa prática, com o desenho e a arte, e depois pediu desculpas. O grafite de fato é uma ferramenta de mudança e me ajudou no controle da ansiedade”, diz Nil.
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