Com SMCS
Na esquina das ruas Mateus Leme e Presidente Carlos Cavalcanti, no Centro, estão dois casarões do estilo colonial que já passaram por remodelação e, modernizados e com a beleza original recuperada, se tornaram pontos de encontro e de negócios de tecnologia.
- Por trás do retrofit nos dois imóveis quase vizinhos estão a empresária Raquel Uchôa Moreira e o empreiteiro aposentado Arlei Smanhotto. Ambos compartilham o apreço por edificações históricas e estão contribuindo ativamente para devolver vida ao coração da cidade. Os dois são exemplos da iniciativa privada que investe no redesenvolvimento da região, o que vai ao encontro da convocação do prefeito Eduardo Pimentel para que as empresas atuem ao lado da Prefeitura para devolver o charme e a atratividade ao Centro.
A contribuição de Raquel começou em 2023, antes mesmo de a Prefeitura lançar o programa Curitiba de Volta ao Centro. Ela transferiu sua empresa de software para um casarão centenário na Rua Mateus Leme, 200 — um imóvel de 1877 no estilo colonial português — e instalou ali também um café-bistrô que funciona diariamente.
“Quando vi que o Eduardo Pimentel estava lançando o programa para reavivar o Centro, achei muito bacana. Curitiba precisa de mais empresários investindo na região, de todos os setores, para diversificar o ecossistema e torná-lo sustentável. A melhor forma de dar certo é quando a iniciativa privada e o poder público trabalham juntos”, afirma Raquel, que já tem planos para um segundo empreendimento.
E é nesse ponto que ela e o ex-empreiteiro se encontram. Seu Arlei já era cliente do bistrô e passou a pedir lá seu café com leite e bolo de cenoura com mais frequência nos últimos sete meses, desde que iniciou a reforma no número 684 da Rua Presidente Carlos Cavalcanti, a 50 metros de Raquel. A obra refez o casarão de 1907, que já abrigou um restaurante, antes de décadas de abandono.
A previsão de entrega é para meados de junho e já tem ocupação certa: foi alugado para Raquel, que pretende levar para ali instituições ligadas a empresas de tecnologia e inovação, nicho do qual ela faz parte.
Raquel pretende levar para o espaço instituições ligadas à inovação e à tecnologia. Uma das ideias em discussão com a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Paraná (Assespro-PR) e apresentada à Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação é transformar o local em um sandbox, um ambiente experimental para testar novas soluções tecnológicas.
“Quero trazer quem faz inovação para o Centro Histórico. Podemos montar um sandbox para os 450 associados da Assespro, trazer empresas do Vale do Pinhão, promover eventos, networking e desenvolver soluções para a própria região”, projeta.
Unidades de Interesse de Preservação
Arlei, 70 anos, dedicou a carreira à construção de rodovias, mas há 15 anos encontrou uma nova paixão: recuperar casarões históricos para locação. Seu primeiro projeto foi na Rua Alfredo Bufren, 323, que hoje abriga um salão de corte de cabelos.
Também já concluiu o retrofit da edificação na esquina das ruas Ébano Pereira e Saldanha Marinho, que ficou 20 anos abandonada e atualmente abriga uma livraria; a da Alameda Augusto Stellfeld, 143, que era a Cantina Árabe antes de se tornar um escombro, e hoje abriga um estiloso restaurante; e um dos casarões que vai ser ocupado por uma escola de balé na Rua Saldanha Marinho.
“Muitas vezes, ficou abandonado porque está em espólio. Já viajei para outros estados para fechar negócio, já desfiz negócio porque, na hora de assinar contrato, o dono resolveu que estava muito barato; tem imóvel em que gastei mais para reformar do que para comprar”, conta.
Casa de Jaime Lerner e UIPs
Arlei se orgulha em contar que entre as casas que se tornaram sua propriedade está a grande edificação no número 593 da Rua Barão do Rio Branco, onde nasceu o ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná Jaime Lerner, e que hoje abriga um bar.
Para manter as características originais das edificações, Arlei recorre aos instrumentos oferecidos pela Prefeitura para imóveis declarados Unidades de Interesse de Preservação (UIP), como o recebimento de Potencial Construtivo e, em alguns casos, desconto no valor do IPTU.
“Eu não faço isso para vender, faço para alugar e faço porque gosto. O pessoal do Patrimônio Histórico da Prefeitura é muito bom no acompanhamento das obras. Às vezes fico com alguma dúvida em como fazer para respeitar a característica original das casas, eles vêm aqui, olham, orientam”, conta.
Mais por vir
Foi assim, por exemplo, que refez o teto do casarão da Carlos Cavalcanti que será locado para Raquel. Com as orientações da equipe da Prefeitura, devolveu o telhado para o imóvel e o forro com um pé-direito que ultrapassa 3 metros de altura, todo forrado em madeira.
“Foi o dobro de madeira que eu tinha estimado, mas ficou bonito. Quando entrei no casarão pela primeira vez, não tinha mais telhado, era tudo mato, tinha árvore com tronco de 40 centímetros de espessura”, contou o entusiasta do Centro, que antes mesmo de entregar seu sexto casarão histórico renovado, já tem o próximo projeto engatilhado, na Rua Trajano Reis.