Conheça o iluminador cênico que transforma Curitiba em cenário do Natal

Com SMCS

Quando as primeiras luzes do Natal começam a colorir Curitiba, ele desaparece de cena e quem ganha protagonismo são os prédios históricos, parques e praças que viram palcos a céu aberto para os espetáculos do maior Natal do Brasil. Nos bastidores dessa transformação está o iluminador cênico Beto Bruel, um dos mais conceituados e premiados do país.

Com olhar atento e observador, com mais de 50 anos de carreira, ele se define como “um caçador de ângulo de luz”. O ponto focal do trabalho de Beto é criar cores e atmosferas para envolver atores, bailarinos, músicos, direcionando a atenção do público para a cena e ajudando a contar a história.

Beto conta que já deve ter “dado luz” a mais de 700 espetáculos teatrais, tanto em Curitiba como em outras capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. No currículo tem trabalhos assinados para Fernanda Montenegro, Marco Nanini, Héctor Babenco, Andréa Beltrão, Roberto Carlos.

Indicado 11 vezes ao prêmio Shell, o mais importante do teatro Brasileiro, Beto venceu cinco vezes. Pela iluminação da peça Não sobre o Amor, dirigida por Felipe Hirsch, conquistou a Medalha de Ouro no Word Stage Design – International Organisation of Scenographers, Theatre architects and Technicians, em Seul, Coreia do Sul.

Desde 2017, ele está à frente da iluminação dos principais espetáculos natalinos de Curitiba. Neste ano, coordena um time de dez iluminadores e iluminadoras profissionais, com trajetória no teatro, premiações e reconhecimento na cena cultural. “Aqui está a nata da nata do teatro de Curitiba, não apenas para fazer a iluminação, mas também no elenco dos espetáculos”, resume Beto, com orgulho.

Integram o time de iluminadores cênicos do Natal de Curitiba Fernando Dourado, Vagner Correa, Victor Sabag, Fábia Regina, Semyramys Monastier, Natani Ribeiro, Lucas Amado, Lucas Tatarim, Anryaider e Krysth Rafaela Bostelmann. Esta última é a mais nova integrante da equipe.

“Comecei a trabalhar com o Beto Bruel no Natal do ano passado, embora já estivesse na iluminação desde 2022 e está sendo uma experiência maravilhosa. Ele é muito generoso, transmite o conhecimento com todos, não guarda nada para si”, destaca Krysty.

No Natal deste ano Krysty está mais presente no Jardim Botânico, acompanhando de perto toda a operação da iluminação cênica, desde a afinação da luz à decupagem do texto, da programação da mesa, ensaios. Ela e a equipe fazem assistência, desde desenhar a estrutura do palco até a afinação da luz. “É uma parceria de criação e, ao mesmo tempo, um aprendizado constante, porque a visão artística dele é simplesmente genial”, diz ela.

6 mil refletores abraçam a cidade

Junto com sua equipe, ele instalou esse ano cerca de 6 mil refletores para destacar os cenários dos espetáculos natalinos que acontecem no Largo da Ordem, Passeio Público, Parque Tanguá, Jardim Botânico, Parque Náutico, Ruínas de São Francisco, Universidade Federal do Paraná e Memorial Paranista.

Muito mais do que apenas “vestir” fachadas e palcos com cores e luzes, Bruel trabalha com um conceito que se tornou marca do Natal de Curitiba, transformar a própria cidade em cenário. Para ele, o segredo está justamente em respeitar e tirar partido da arquitetura, dos parques, das praças e da história de cada espaço.

“Em cada lugar tem que se pensar de um jeito, que varia de acordo com a peça proposta pelo diretor. Mas, a verdade é que a cidade abraça o Natal, e o Natal abraça a cidade, aí ela vira o nosso cenário”, revela Bruel.

O trabalho do iluminador pode ser conferido nas fachadas dos prédios históricos do Largo da Ordem. Aquilo que fica incógnito durante o dia, à noite, nessa época do ano ganha vida com a iluminação cênica conduzida pelo profissional durante o Auto de Natal, tradicional espetáculo da programação natalina curitibana.

O olhar do público é automaticamente puxado em direção aos casarios, em meio as cenas do Auto. A luz que vem de cima dos pórticos e também por baixo, evidencia detalhes e contornos desses edifícios centenários como o Palacete Wolf, a Casa Romário Martins, a Casa Hoffmann, o Solar da Cultura e o moderno Memorial de Curitiba.

O desafio técnico é grande, pois muitos prédios são tombados e não permitem intervenções estruturais simples. “Como é que a luz não faz curva?”, brinca. “Você joga pra cá e ela pega lá. Por isso a gente busca o melhor ângulo, a melhor estrutura, sem poluir visualmente”, explica Bruel.

Outro local que leva a assinatura do time de Bruel na luz é o cenário do Passeio Público, onde além de destacar a Ilha do Poeta, onde a encenação acontece, também ilumina as árvores do parque.

É essa relação direta com os espaços públicos que, segundo ele, diferencia Curitiba de outros eventos natalinos pelo país. “Quando você pega a Universidade Federal, por exemplo, aquela imensa estrutura vira um palco genial com a Praça Santos Andrade. No Passeio Público tem a ilha dos poetas, as árvores, e a gente brinca com isso para ter o melhor efeito cênico”, destaca.

Trabalho de madrugada

Para dar conta de tanto trabalho é necessário planejamento prévio com muita antecedência. As conversas sobre os projetos começam ainda em no mês de agosto. Nas semanas que antecedem as estreias, ele vira madrugadas em montagens que envolvem iluminação simultânea em diversos pontos da cidade.

A dimensão do Natal de Curitiba impressiona até quem trabalha nele desde o começo. Com cerca de 150 atrações gratuitas, das quais 40 são espetáculos, Bruel vê um movimento crescente de público e impacto econômico significativo. “Se não tivesse público, não faria sentido, mas o Natal de Curitiba virou um sucesso visível, um turismo cultural que é uma indústria limpa, todo mundo ganha, o público, os comerciantes, os artistas os prestadores de serviço e a cidade, principalmente”.

Beto conta que só o trabalho de iluminação cênica que ele realiza envolve diretamente oito empresas de som e luz. “Dezembro é baixa temporada nos teatros, então muitos prestadores de serviço que não teriam nada nessa época se a Prefeitura de Curitiba não realizasse o Natal”, fala Beto.

Nascido na Lapa (PR), ele descobriu a iluminação quando era aluno do Colégio Estadual do Paraná. “Cheguei no teatro e disse deixa que eu faço a luz e vim parar aqui, nunca mais parei”, relembra.

Hoje, ao ver a cidade iluminada, sente orgulho do percurso e do impacto coletivo. “Eu tenho um orgulho enorme de participar disso. Os curitibanos falam com a gente e dá pra ver o quanto gostam. É bonito ver a cidade iluminada e evoluindo, acho que temos que levar o Natal para os 52 parques da cidade”, brinca.

Com realização da Prefeitura de Curitiba, o Natal de Curitiba 2025 é apresentado pelo Bradesco e também tem como patrocinadores: Governo do Paraná, Ademicon, Condor Super Center, O Boticário, Rumo, Grupo Potencial, Ligga, Uninter, Electrolux, Volvo do Brasil, PUCPR/Grupo Marista, Família Madalosso, Consórcio Servopa, MiniPreço, Tenda, Favretto, Abrasel-PR, Super Muffato, Valor Real Construtora, Realiza Eventos e Festtone. A programação ocorre de 24 de novembro a 6 de janeiro, com apresentações até 23 de dezembro.